A língua de Eulália, a novela sociolingüística, é uma obra do autor Marcos Bagno, que contém 208 páginas, e está dividida em 21 capítulos. O Livro foi lançado pela Editora Contexto, em 1997.
RESENHA DA OBRA A LÍNGUA DE EULÁLIA
No primeiro capítulo acontece à chegada das amigas, Vera estudante de Letras, Silvia estudante de Psicologia e Emília estudante de Pedagogia, professoras do curso primário no mesmo colégio de São Paulo. Elas resolveram passar suas férias de inverno em Atibaia na casa da tia de Vera, a Irene, que atualmente está aposentada, mas continua escrevendo artigos para revistas, livros, sendo que um deles, que está a caminho trata das diferenças do português padrão e o português não padrão. Junto com Irene mora a Eulália, que no começo trabalhava como empregada, e depois virou uma amiga, uma pessoa da família.
No segundo capítulo, é quando começa a conversa sobre o português-padrão e o português não-padrão. Após o almoço, que foi uma festa, as três amigas saem para passear com Irene, que fala sobre como é boa a comida de Eulália, que ela tem muito conhecimento e sabedoria. Mas as meninas discordam da tia, dizendo que ela pode ter muita sabedoria, mas fala tudo errado. Irene então diz a elas, que a fala de sua ajudante não é errada, mas sim diferente. Que seria errado dentro das regras da gramática que se aplicam ao português- padrão, mas na variedade não- padrão esses regras não funcionam. Após essa afirmação as meninas ficam muito curiosas e pedem que a tia prove a elas que Eulália não fala errado. Então combinaram de se reunir mais tarde, para bater um papo sobre o assunto. E o bate papo acabou virando uma aula, que foi tão boa, que as amigas pediram para Irene continuar, então todas as noites elas se reuniam em uma peça, localizada a poucos metros da casa.
No terceiro capítulo, fala-se sobre a sala onde acontece as aulas das meninas. Era uma sala, com mesas e cadeiras dispostas em círculos, com armários no fundo, cheios de livros, cadernos, lápis, e tinha também uma grande lousa. Irene contou que foi neste local, que alfabetizou Eulália e mais algumas empregadas domésticas da região, mas que ali era apenas um espaço de trocas de conhecimentos, de intercambio de experiências, pois ela não era a única capaz de ensinar alguma coisa, pois toda pessoa sempre tem algo de interessante, para transmitir aos outros. Então as estudantes perguntaram, se Eulália era alfabetizada porque falava tudo errado. E a resposta foi, é por aí que vamos começar.
Neste mesmo capítulo, começa a abordagem mais profunda das diferenças e da história do português-padrão e o português não-padrão, falando das variedades e dos mitos existentes no Brasil em relação à língua falada no país. Existe o mito da unidade lingüística do Brasil, que aqui só se fala uma língua, o português, mas esta é uma idéia falsa, pois há muitas línguas faladas pelas nações indígenas, e também comunidades de imigrantes estrangeiros que mantém viva a língua de seus ancestrais. Mas, além disso, tem as variedades: geográficas, de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanos, rurais etc. Toda língua muda com o tempo e varia com o espaço. Portanto, fala-se um certo número de variedades de português, das quais algumas chegaram ao posto de norma-padrão por motivos que não são de ordem lingüística, mas histórica, econômica, social e cultural (pág. 27). É este português- padrão, essa norma oficial que é usado na literatura, nos meios de comunicação, nas leis e decretos do governo, ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas. Já o português não-padrão, que vem do latim vulgar, apresenta variedades de acordo com as diferentes regiões, classes sociais, faixas etárias e níveis de escolarização em que se
encontram as pessoas que o falam.
Na página vinte e nove temos o esclarecimento de que as diferenças ente o PP e o PNP não são apenas na escrita e no modo de falar, mas também sobre quem fala, de quem tem poder e quem não o possui, as diferenças entre as classes sociais. O português-padrão é falado pelas pessoas que tem poder e estão nas classes sociais mais privilegiadas e o português não-padrão é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos. É também a língua das crianças pobres e carentes que freqüentam as escolas públicas. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, o português não-padrão sofre os mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. É considerado feio, deficiente, pobre, errado. Isso é um grande problema para a educação, pois as crianças que chegam na escola falando o PNP é considerada deficiente, quando ela apenas está falando uma língua diferente daquela que é ensinada na escola. Isso faz com que o aluno se sinta inferior, incapaz de aprender. O aluno fica desestimulado a aprender e o professor
Na página vinte e nove temos o esclarecimento de que as diferenças ente o PP e o PNP não são apenas na escrita e no modo de falar, mas também sobre quem fala, de quem tem poder e quem não o possui, as diferenças entre as classes sociais. O português-padrão é falado pelas pessoas que tem poder e estão nas classes sociais mais privilegiadas e o português não-padrão é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos. É também a língua das crianças pobres e carentes que freqüentam as escolas públicas. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, o português não-padrão sofre os mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. É considerado feio, deficiente, pobre, errado. Isso é um grande problema para a educação, pois as crianças que chegam na escola falando o PNP é considerada deficiente, quando ela apenas está falando uma língua diferente daquela que é ensinada na escola. Isso faz com que o aluno se sinta inferior, incapaz de aprender. O aluno fica desestimulado a aprender e o professor
desestimulado a ensinar. Talvez seja por isso que tantas crianças pobres abandonam a escola, por serem desprezadas.
A Eulália foi alfabetizada quanto tinha mais de quarenta anos. Hoje ela sabe ler e escrever, foi alfabetizada no português-padrão, mas continua empregando no seu dia-a-dia a variedade não-padrão que é a “língua materna” dela, usada pelas pessoas de sua família e de sua classe social. Irene mostra através de seus quadros explicativos e desenhos, que o português padrão é artificial porque requer aprendizado, memorização das regras e que o não padrão é natural, é passado de geração para geração, é compartilhado com as pessoas da família.
No sexto capítulo, fala-se da importância do educador, ser compreensivo capaz de aceitar as diferenças e variedades do modo de falar que existem o Brasil. É importante que nós, educadores, tenhamos em mente que o português não-padrão é diferente do português-padrão, mas igualmente lógico, bem estruturado e que ele acompanha as tendências naturais da língua, quando não refreada pela educação formal. O PNP não é “pobre”, “carente”, nem “errado. Pobres e carentes são, sim aqueles que o fala, e errada é a situação de injustiça que vivem (pág. 62).
No décimo capítulo, Irene explica: eu digo ao meu aluno que ele pode falar BONITO ou BUNITO, MENINO ou MININO, mas que ele só pode escrever BONITO e MENINO, porque é preciso uma ortografia única para toda a língua, para que todos possam ler e compreender o que está escrito (pág. 104). Quem vai a escola aprende a “receita” de ler, mas na hora de produzir na fala o que leu, cada um deixa sua marca pessoal, é como acontece com a letra da gente, cada um tem o seu jeito de escrever, que é único e exclusivo, mas que ao mesmo tempo pode ser lido e entendido pelos outros.
O autor transmite através dessa obra, as diferenças do português-padrão e o português não- padrão, enfatizando sempre, que pode parecer que uma pessoa fale errado, e que o seu jeito de falar não se encaixa no português-padrão, porém age errado quem pensa assim, pois cada um fala de acordo com sua região, classe social, faixa etária, gênero. E se for procurar na história das línguas há uma explicação para todas essas diferenças. Após ler este livro, acabei refletindo e analisando minhas atitudes, porque muitas vezes agi como a Vera, Sílvia e Emília, achando que as pessoas falavam errado, quando na verdade falavam diferente. E agora vejo a importância de conhecer a pessoa, sua realidade, como vive, sua história, para então entender o porque do seu jeito de falar. Afirmo que sou a favor de ser ensinado dentro das escolas uma língua padrão, porque é preciso ter uma organização, como um símbolo, que todos entendam, porém a forma como esta sendo passado esse português- padrão, deve ser repensado, reformulado, resignificado, pois ele não é o único, nem o mais bonito e o mais certo, que há outras formas de falar, de se comunicar. Cada um traz a sua bagagem de conhecimento, os seus saberes de mundo, adquiridos através de gerações, do dia-a-dia, e que não podem ser desprezados, mas sim valorizados e respeitados, só assim poder acontecer uma educação capaz de mudar a sociedade, onde todos embora com suas diferenças, são iguais, com o mesmo direito de aprender.
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