Obra de Magno
Marcos, a novela sócio lingüística, a língua de Eulália, Editora Contexto, n°
de páginas 209 e dividido em 2 capítulos. A história se passa com três amigas,
Silvia, Emilia e Vera, ambas são estudantes que decidem passar as férias em
Atibaia (São Paulo), na casa da tia de Vera, que é chamada de Irene, que é uma
professora universitária aposentada.
Ao chegarem,
as meninas criticam o português falado por Eulália, empregada da casa, de modo
que Irene resolve explicar questões lingüísticas, para as meninas e mostrar
através de aulas que o preconceito lingüístico não possui fundamento, pois a
história da língua portuguesa passou por várias fases e cada uma delas
justifica o uso das variações lingüísticas. Existem maneiras diferentes de
falar, a mesma língua, e não podemos achar que são consideradas erradas, pois a
sua utilização não prejudica o entendimento e tudo não parece erro no
português.
O livro busca
sempre comparar o português padrão com o não-padrão, para mostrar que há mais
semelhanças do que diferenças entre eles neste contexto discutem-se que os
falantes da norma não-padrão têm dificuldades em aprender a norma padrão, pois
o primeiro é relatado de forma natural, já o segundo requer aprendizado e como
na maioria das vezes essas pessoas são de classe baixa, ou seja, não estudaram
e abandonaram a escola muito cedo para poder trabalhar.
A eficácia do
português não-padrão não pode ser negada, pois consegue diminuir as regras
gramaticais tornando-as mais claras, também ocorre freqüentemente com o uso de
concordância, plural e conjunção verbal. Esta postura não deve ser abominada,
pois é comum em outras línguas, mesmo na norma padrão delas, por exemplo, o
inglês. O título da pág. 56, que fala da transformação do LH em L, é o yeísmo,
onde responde um pouco sobre isso a tia Irene. As semelhanças podem ser vistas
em traços lingüísticos, como os verificados em um falante escolarizado da
região sul, que pode se comunicar perfeitamente com um analfabeto do norte do
país.
Esse mesmo
analfabeto terá grandes dificuldades em entender uma linguagem mais
padronizada, mas isso não significa que não tenha capacidade para aprender
regras gramaticais, o que depende, em parte, da maneira de ensinar na escola
que ele vier a freqüenta. Entre outras coisas, o livro A língua de Eulália,
mostra a comparação entre o português- padrão e o português não-padrão, bem
como o preconceito apontado não são exatamente as diferenças lingüísticas que
prevalecem, mas sim, as diferenças sociais, mostrando que esses preconceitos
são comuns, como por exemplo, o étnico: o índio ‘preguiçoso”, o negro
“malandro, “mesquinho”, o português “brince”; o sexual: o desprezo pelas
práticas medicinais “caseiras”, além dos socioeconômicos: como a valorização do
rico e o desprezo pelo pobre; entre outros.
Desvendando a
sociolingüística de maneira especial, o autor se preocupa em transmitir através
desta obra, que por mais estranhas que possam parecer certas pronúncias, por
mais incompatíveis que sejam com o português padrão que aprendemos na escola,
cada um dessas palavras têm origem perfeitamente explicável dentro da história
da língua portuguesa.
É questionado
ainda na obra do autor, p.173, “então bastaria dar escola a todos os
brasileiros para que todo mundo falasse e escrevesse direitinho”? A resposta da
tia Irene é clara e precisa quando comenta que não é tão simples, porque mesmo
os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso às regras padronizadas,
incutidas no processo de escolarização, se mostram muito inseguras no momento
de usar essas regras conservadoras. Por isso não basta ensinar a gramática
normativa na escola, é preciso definir de maneira mais democrática qual deve
ser a norma a ser apresentada na escola.
Ainda é
importante salientar sobre a questão da interpretação e análise, onde
costuma-se observar diversas e diferentes formas de visualizar e entender determinado texto. O cruzamento
sintático é comentado na p.182, onde existe a explicação do mesmo, e a
descoberta de uma expressão chamada braquilogia,
que significa tentativa de resumir duas idéias numa só expressão. É levado em
conta que o pronome mim é um pronome tônico,
quer dizer, uma palavra que soa mais nitidamente quando pronunciada, que se
destaca foneticamente dentro do enunciado. Ao usar mim, que é tônico, e não eu,
átono, o falante está dando uma ênfase afetiva
a seu enunciado.
Na página
187, as protagonistas do livro refletem a questão do deslocamento de para mim e o significado desse sintagma
para depois avaliar se ele pode ou não vir antes do infinitivo, pois o falante
não vai ficar o tempo todo, antes de produzir seus enunciados, verificando as
possibilidades de deslocamento, essa análise deve ser feita pelos
investigadores que se interessam em descobrir as regras de funcionamento da
língua. Portanto, se o falante construir sua frase e deu certo, cumpriu sua
missão num determinado enunciado, não existe razão para que não funcione
novamente em outros enunciados semelhantes.
Conclui-se ao
final das aulas no fundo da casa da tia Irene, que: falar diferente não é falar
errado, pois tudo o que parece erro no PNP tem uma explicação lógica,
científica (lingüística, histórica, sociológica, psicológica). Existem muitos
aspectos considerados errados, o que na verdade, não passam de arcaísmos,
vestígios da língua portuguesa falada muitos séculos atrás.
O livro A
língua de Eulália, fez com que se entendessem melhor as variações lingüísticas
e transmitir uma bela explicação da linda disciplina de Língua Portuguesa, onde
aprendeu-se a história da norma-padrão, seu funcionamento e até um pouco de
grego e latim, misturado com italiano e francês, proporcionando e adquirindo um
conhecimento envolvendo a aprendizagem e a leitura.
BAGNO,
Marcos. A língua de Eulália. Novela
Sociolingüística. São Paulo. Contexto: 1997.
Lilian de
Vargas Fruet

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